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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Luxo...


Gente...eu tenho adiado, adiado, adiado essa postagem (juntamente com umas outras que devo postar muito em breve...)........mas chega uma hora em que bate aquele sentimento que é hora de fazer algo a respeito.

Eu ando pelas ruas de minha cidade...uma cidade-dormitório/universitária...pacata até...sem muitas opções de lazer ou cultura...até aí, tolerável.
Mas...cada vez mais, tenho visto despontando no meio da "massa", do "gado humano" um sujeito ou outro que não condiz com a realidade do ambiente. De destaca no meio de uma multidão de pessoas simples um ou outro usando correntes de ouro ou prata no pescoço, anéis e relógios caríssimos, pares de tênis que custam mais que um celular novo e celulares que custam quase o preço de um computador novo...prefiro não mencionar os computador que um sujeito desse deve possuir. Desde sempre eu tinha uma enorme curiosidade sobre o "valor do ouro"...eu achava outros metais tão mais bonitos, ou úteis...até que um dia perguntei a um professor de química que raios tinha o tal ouro...e ele me contou que é um metal extremamente valioso por ser bastante maleável, bom conduor de calor, de eletricidade e possuir umas outras propriedades físico-químicas formidáveis. E nessa hora pensei: "Se é um metal tão importante, porque o disperdiçam transformando em pequenas peças sendo usadas como simples adornos por meia dúzia de pessoas que não vão aproveitar suas propriedades devidamente???"

Tudo bem que, quando alguém "se mata" de trabalhar pra conquistar uma vida mais confortável, até damos um desconto no começo...afinal, no começo tudo é empolgação. Experimentar usar e possuir coisas que nunca se imaginou acessíveis antes faz parte da natureza curiosa do ser humano...
...o grande problema está em quando isso sobe à cabeça e essas coisas passam a ter valor.

Eu exerço autonomamente a profissão de professor particular quando conveniente e certa vez fui lecionar para um aluno que morava em um condomínio de luxo isolado no meu município. A sensação que tive quando lá dentro é quase indescritível. Foi uma mistura de repulsa com vergonha e indignação, mais outros sentimentos afins que não convém descrever nesse momento.
Enquanto a maioria das pessoas que ali entra se admira ao vislumbrar o asfalto lisinho, com a pintura perfeita, lagos artificiais, mansões, serviço exemplar de guarda e sinalização...eu senti.......nojo. Acho que essa é a melhor palavra de que posso me utilizar nesse momento pra sintetizar o que senti...nojo.
Eu penso em situações como as catástrofes de enchentes que têm acontecido, por exemplo, inclusive em minha cidade...milhares de pessoas desabrigadas, passando fome, dor, sede, sono, doentes...e logo em seguida penso nos poucos que conheci que habitam lugares como esse. Eles são tão vazios...os valores deles são tão ególatras e superficiais...
Eu poderia apostar que há moradores daquele lugar que contribuíram com o serviço humanitário voluntário prestado às vitimas da miséria...mas de lá onde estão. De longe. Mandando algumas quantias em dinheiro, comprando algumas cestas básicas e enviando às áreas atingidas.

Você pode dizer: "Mas eles estão tomando alguma atitude, pelo menos! Há aqueles que nem isso fazem!". Mas é aí que eu entro com minha revolta fundamentada: "Eles poderiam fazer muito mais! Nós, pessoas de camadas econômicas inferiores às deles, com os poucos recursos de que dispomos, fazemos isso. Eles que podem muito mais fazem a mesma coisa...digo, no mesmo grau, mesma quantidade...às vezes até menos??? E eles estão certos??? Eles se abrigam em lugares isolados com seus carros que custaram seis dígitos, com o melhor do conforto e facilidades, acreditando que estão "se protegendo" do mundo aqui fora...e está tudo bem?".

Fico imaginando como os filhos desses caras vão sobreviver quando catástrofes maiores atingirem nossa região e dinheiro não puder fazer muita coisa na situação emergencial.
É triste dizer...mas um garoto criado na favela, aprendendo a correr em meio a tiroteio pra chegar com o leite em casa está muito melhor preparado para as adversidades da vida do que um garoto nascido "em berço de ouro" que estala os dedos e o leite chega de helicóptero.

Não estou dizendo que eles devem abandonar seu conforto, muitas vezes conquistado a duras custas, pra se juntar à miséria daqueles que nada tem e igualmente nada fazem para ter.
Mas, justamente por saberem que estão em melhor condição, deviam ter a consciência de auxiliar na promoção de recursos que permitam "àqueles que estão abaixo" maiores possibilidades de evolução, conscientização e estruturação...
Tudo bem que nem todos que estão em condições miseráveis estão dispostos a estudar, trabalhar, se desenvolver....enfim, lutar pra sair dessa condição...mas há os que pagariam qualquer que fosse o preço para ter essa oportunidade...e é neles que penso quando vejo esse tipo de situação. Vejo garotos nascidos em favelas tornando-se instrumentistas de orquestra, atores, diplomatas...e veja de onde eles saíram! Só chegaram lá porque alguém apostou neles...e acertou.

Aos abastados, que se dizem cultos, inteligentes e superiores em diversas condições...fica a expressão de minha indignação com atitudes tão estúpidas e simplistas, que só colaborarão para a generalização da catástrofe...porque, se eles pensam que a desgraça não entra pelas portas do condomínio, eles esquecem que eles não podem passar o resto de suas vidas lá dentro...ou seus filhos...netos...e assim por diante...

A hora chega...isso é fato. E é inevitável. ;)

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